Review In Treatment (2.06-2.10) – Week Two
In Treatment (2.06) – Mia – Segunda, 7:00 AM
Uma semana depois, Mia resolve marcar uma “sessão” com Paul apenas para poder se desculpar pelo vexame da semana passada – em que causou constrangimento a Paul ao acusá-lo por ser responsável por sua vida da maneira que é hoje. Porém, como não poderia deixar de ser, isso foi apenas mais uma desculpa para que ela continuasse a acusar o médico pelas escolhas erradas que fez em sua própria vida também nesse episódio, atitude esta já esperada, de certa forma, por Paul, que fez questão de marcar esse novo encontro em seu território, seu escritório, aonde poderia ter mais controle sobre a situação.
E o que acontece durante a conversa, que Mia recusa a chamar de terapia, é uma grande apresentação a todos os problemas da personagem: chegando ao fim de seu período fértil, ela deseja, mais do que nunca ter um filho, nem que seja com seu amante, e quando ele termina seu affair com ela ao descobrir seu desejo por um bebê, Mia volta-se contra outra pessoa, Paul, e o culpa por tê-la “obrigado” a abordar a criança que esperava aos 22 anos de idade. Apesar de ouvir tanto rancor de sua ex-paciente, Paul não parece nem um pouco surpreso com o que Mia tem a lhe contar. É óbvio que é uma ingenuidade de Mia achar que Paul a pressionou para abortar aquela criança, porém o médico não pareceu fazer nenhum esforço para negar sua participação no caso, inclusive, alguém mais achou estranho Paul não se lembrar de quase nada sobre aquela paciente. Ou melhor, não é no mínimo esquisito que Paul não soubesse, há 20 anos atrás, que sua paciente estava escondendo sua gravidez do próprio namorado e da família? É certo que ela poderia ter mentido para ele na época, mas também é certo que ele evidenciaria ter sido enganado naquela época na sessão de hoje, o que não aconteceu.
O que me parece é que há 20 anos atrás Paul não era tão atencioso com seus pacientes como é hoje, talvez também lhe faltava a experiência que ele ganhou apenas com o tempo. Em outras palavras, aquele não era o Paul que conhecemos hoje. Naquela época ele ainda não era seguro o bastante como médico – o que poderia justificar as anotações que fazia de seus pacientes e deixou de fazer com o passar do tempo –, seu casamento ainda estava funcionando e ele estava prestes a se tornar pai. Seja o que for que tenha acontecido naquela época, teve repercussões no presente, pois Mia quer ser recompensada pelo o que perdeu, quer que Paul pague o preço do que supostamente ele tirou dela: um marido, um filho, enfim, uma família. O que Paul tem a dizer sobre tudo isso? Só vamos descobrir na semana que vem, ou quem sabe na sexta, em mais uma de suas conversas com Gina.
In Treatment (2.07) – April – Terça, 12:00 PM
É preciso muita vocação para trabalhar em uma profissão como a da psicologia: entrar na vida de estranhos a cada momento, compartilhar de seus problemas, guardar seus segredos – muitas vezes não compartilhados com mais ninguém – e ainda ser cobrado o tempo todo por soluções e conselhos não deve ser nada fácil. Sem falar que um médico não pode nunca levar seus problemas pessoais para seu consultório, e foi exatamente isso o que Paul fez essa semana. Em uma atitude totalmente oposta ao da semana passada, ele conseguiu, com muita calma e paciência, ouvir April, perceber que ela continua sem querer iniciar seu tratamento, e mesmo assim não perder a cabeça como aconteceu na última sessão da menina. A mim já é um milagre que ela tenha voltado para um segundo encontro.
Dessa vez, assim como Mia no episódio anterior, ficamos sabendo mais detalhes sobre a vida de April, porém, apesar de ouvirmos ela contar sobre seu problemático relacionamento com o ex-namorado, sobre seu irmão autista e sobre coisas que ela odeia em si mesma e nas outras garotas, um fato permaneceu o mesmo: April demonstrou, novamente, que não consegue pedir ajuda dos outros, o que foi muito bem apontado por Paul quando este lhe perguntou se ela preferia morrer a parecer fraca perante outras pessoas. E turrona do jeito que é, é capaz que Paul demore mais tempo para conseguir que ela confie nele e aprenda a aceitar a ajuda dos outros do que o tempo que April realmente tem para tomar uma decisão – principalmente se ela continuar a não apenas fazer o seu papel mas também não deixar Paul falar sempre tentando deduzir o que ele está pensando sobre tudo aquilo.
Meu destaque nesse episódio, no entanto, vai totalmente para Paul. Alguém percebeu como ele falou manso sobre o tratamento para April dessa vez? Muito diferente da semana passada em que entrou em pânico e disse enfaticamente que ela precisava de tratamento. Acredito que suas palavras na sessão de hoje terão um impacto muito maior que os da semana passada na garota – apesar de que a influência de Paul sobre ela foi estabelecida a partir do momento em que ela entrou no consultório e disse ter contado a alguém que tinha câncer, como Paul havia pedido na semana passada.
Outra atitude correta do médico nesse episódio foi, ao final, tomar notas sobre o que aconteceu naquela sessão – algo que ele deveria ter feito com Alex para evitar ser processado como de fato acabou acontecendo. Isso não apenas lhe permitiu prometer confidencialidade a April, como também demonstra amadurecimento profissional e, mais ainda, que toda sua preocupação com a paciente não é prática ou voltada para seus próprios interesses: Paul realmente se importa com a saúde dessa garota, e quer fazer o possível para salvá-la antes que seja tarde.
In Treatment (2.08) – Oliver, Quarta, 4:00 PM
Confesso que esse episódio focado no menino Oliver me impressionou. Apenas após exatos 11 minutos de conversa entre Paul e o garoto foram o suficiente para eu ficar impressionada com a densidade desse menino e a quantidade de problemas que ele enfrenta diariamente sem se abrir com ninguém. A começar por seu problema para conseguir dormir, que não tinha nada a ver com seu pai receber amigos em seu apartamento no final das contas. O menino está sofrendo tanto por seu alvo de chacota na escola e seus pais estão tão absorvidos um com o outro que Oliver não consegue mais dormir por ficar estressado. E quem não ficaria com dois pais como aqueles?
Se na primeira metade do episódio tivemos todos os temas que preocupam Oliver discutidos com maturidade – o que chega a ser irônico, considerando que ele é apenas um garoto –, o que vimos na segunda metade foi, mais uma vez, os pais do menino se comportando como adolescentes na frente de Paul, brigando por coisas irrelevantes que pouco dizem respeito a Oliver, mas que falam principalmente um do outro, excluindo a presença tanto do garoto quanto do próprio Paul.
Passei por uns bons momentos de raiva quando ouvi a primeira frase do pai do garoto a Paul: “Resolveram o problema? Está tudo certo agora?”, como se a questão estivesse em Oliver, ou a solução em Paul, uma idéia completamente idiota. E o que dizer dessa mãe desequilibrada que distorceu tudo o que Paul disse pois, no fim das contas, não conseguiu superar a separação e subitamente desejava voltar com o marido. Ridículo foi ver as coisas saindo do controle quando ela descobriu que o marido já estava com uma namorada nova, em uma cena de ciúmes patética.
Oliver acabou chateado, e Paul frustrado por não conseguir ajudar o garoto. Também ficaria com aquela cara ao perceber a tartaruga em seu tapete no fim do episódio se percebesse que ao invés de se preocuparem com seu filho, aqueles pais só estão ali para procurar o apoio de Paul nas picuinhas que um tem com o outro – repararam como para tudo eles perguntam para Paul se ele não concorda também?
In Treatment (2.09) – Walter, Quinta, 5:00 PM
Cada episódio que passa dessa semana tem sido melhor que o anterior. O mais fraco até o momento para mim foi o de Mia, e o melhor o de Walter. Foi realmente interessante ver Paul literalmente arrancando as informações vindas de um paciente difícil, impaciente, que teima e o desafia o tempo todo, e mesmo assim chegar a uma conclusão muito plausível para os ataques de pânico do empresário.
Simplesmente adorei todo o processo. Quando Paul começou a vasculhar mais sobre a morte do irmão de Charles, que aconteceu quando ele ainda era pequeno, percebi, graças a interpretação de Gabriel Byrne e da música ao fundo, crescente, que ele tinha descoberto alguma coisa. Daí adiante foi um show ver o doutor conectar todas as peças desse quebra-cabeças fragmentado que é, no fim das contas, toda vida humana e dar o diagnóstico: “Eu não acho que você confia que as pessoas que te deixaram irão voltar algum dia”, algo que foi obviamente recebido com ceticismo por esse difícil, mas não desinteressante paciente.
Porém ao dar o diagnóstico, Paul praticamente fez com que Charles não tenha mais motivo algum para voltar a vê-lo, pois tudo o que ele queria era saber a causa de sua insônia para poder se medicar. É claro que o paciente irá voltar na semana que vem, e será muito interessante ver a desculpa que ele dará a Paul para voltar. Talvez tenha sido mesmo importante Paul demonstrar com uma dura crítica que Charles não permite que o terapeuta faça seu trabalho – aliás é sempre brilhante ver como Paul consegue variar da calma absoluta com April e a filha, por exemplo, e a raiva em momentos mais explosivos, seja com Walter, Gina ou Alex, na temporada passada. Mas será que Charles percebeu de uma vez por todas que Paul é um excelente profissional e que deve ser respeitado por isso?
In Treatment (2.10) – Gina – Sexta, 6:00 PM
Chegamos ao fim de mais uma semana de “tratamento” com um magnífico episódio focado em Paul. Há algo em Paul Weston engraçado e igualmente trágico. Ao mesmo tempo em que eu me divirto com sua rabugice com Gina também me emociono ou no mínimo fico tocada quando vejo o número de questões que ele precisa resolver consigo mesmo para dar rumo a sua vida.
Se por um lado achei divertidíssimo ele bancar a criança em busca de atenção no começo do episódio quando anunciou que não poderá fazer terapia com Gina – só para ficar chocado com a reação completamente indiferente da terapeuta, que já imaginava o propósito de tudo aquilo, claro, quando ela decidiu ir ao shopping ao invés de ouvir o que ele tinha a dizer –, achei muito importante o momento em que ele revela para Gina que, de alguma forma, se culpa pela morte de Alex, afinal, ele estava tão envolvido com Laura na época, que foi incapaz de perceber os sinais que Alex lhe enviou para chamar sua atenção para seu problema – o que, infelizmente, o levou a morte logo em seguida.
Por fim tivemos ouvimos relatos de Paul sobre sua primeira paixão de adolescência, Tammy Kent, justamente uma outra paciente de Gina. Foi tão cruel o que sua mãe fez com ele naquela noite de Natal. Infelizmente são esses erros dos adultos que acabam afetando para sempre a vida de seus filhos, como a vida de Paul, que até hoje se culpa por ter visitado Tammy naquela noite de Natal ao invés de ficar com sua mãe – uma bobagem, já que ele era apenas uma criança, mas como convencer sua consciência do contrário? Foi belíssima essa cena, me emocionou bastante, pois essa culpa parece ser algo que realmente machuca Paul, que o impede de viver com a mente limpa, o espírito livre de qualquer culpa.
Resta saber para quem Paul ligou no final do episódio. Aliás, já ia me esquecendo, que surpresa rever sua ex-esposa no início do episódio, não pensei que isso fosse acontecer nessa temporada, pelo menos não tão cedo, e a revelação de Paul de que Laura irá testemunhar também na questão sobre Alex me faz perguntar se veremos a personagem novamente na história. Espero sinceramente que sim, gostaria muito de ver Paul e Laura se reencontrando novamente, mesmo que a série não precisa trazer seus personagens antigos para ser interessante, em apenas duas semanas essa temporada já conseguiu provar isso perfeitamente.
Postado em: In Treatment