Review Battlestar Galactica (4.20) – Daybreak Parte 2
Esta semana terminaram duas séries de ficção científica que tiveram e ainda têm um sucesso considerável: Kyle XY e Battlestar Galactica. Quem viu Kyle XY (eu não vi a terceira temporada) deve ter detestado o final pois segundo o que li e ouvi dizer, não resolveram quase nada e ainda criaram novos mistérios; uma falta de respeito para os fãs! Já em Battlestar Galactica, as críticas também estão a pesar, muitas positivas e outras negativas e vamos ver neste review os dois lados da moeda.
Primeiro que tudo, é importante que o fã de Battlestar Galactica saiba que existe um lado metafísico na série. Se não compreenderem isso, é o primeiro passo para detestar o final que ocorreu na passada sexta-feira. Ronald D. Moore, o responsável por BSG, foi acusado de comodismo, facilitismo e outras coisas do género. Está claro que dois dos principais mistérios não foram resolvidos por via científica, mas sim religiosa, e isso não me incomoda nem um pouco. Existem muitas séries de ficção científica que acabam com explicações científico-tecnológicas, mas BSG não… Moore decidiu ir pelo outro lado, o menos esperado e, para mim, essa foi a decisão mais acertada.
Claro que com esta conversa toda, só podia estar a falar da explicação da famosa pergunta ‘O que é a Starbuck?’. Antes de escrever este comentário, percorri fóruns, li entrevistas, enfim… dezenas de sítios e apercebi-me que houve mais pessoas que não gostaram da explicação (muitas disseram que nem sequer havia) do que aquelas que gostaram. Atirando um número ao ar, assim de forma espontânea, diria que tem uma diferença de 80% para 20%. Fico feliz por fazer parte dos 20%. Acho perfeitamente normal terem terminado assim a história da Starbuck (o facto de ela ser uma espécie de guiadora da humanidade/anjo).
Para aqueles que pensam ‘ha… mas não disseram que ela ia levar a frota para o fim?’, pensem duas vezes ao que aconteceu à Galactica. Em milhares de humanos, apenas dezenas chegaram à sua ‘casa’, aquela que há tanto tempo procuravam. Starbuck foi aquela que conduziu-os a tal, mas também foi a mesma que encontrou o ’sistema’ em que essa ‘casa’ estava, ’sistema’ esse que é conhecido por Sistema Solar e que tem como a única estrela o Sol, aquele que destruir tudo o que restou. Pode ser confuso, mas se pensarem bem, a Starbuck levou-os mesmo para o fim. Tal como ela disse ao Lee na última conversa entre os dois, aqueles seriam os últimos dias da vida dele (e dos restantes sobreviventes).
Quanto ao outro mistério resolvido por via metafísica, é o do Baltar e da Six. À semelhança do anterior, gostei do desfecho. Além das razões apresentadas nos três parágrafos anteriores, tem mais uma que quero referir: felizmente, Baltar não terminou como o personagem dispensável com que eu pensava que ia terminar. Nesta última temporada, eu pensava que o Baltar tinha-se tornado em algo desprezível, mas mudei de opinião. Depois de ver como tudo terminou, sendo ele o verdadeiro Deus, fico feliz pela direcção que a personagem magistralmente interpretada por James Callis tomou. Agora sim, podemos dizer o quão importante era a relação entre Baltar e a Head Six e também da Six com o Head Baltar. Por mim, também está explicado. Next!
Já que estou a falar dos últimos minutos e só depois é que irei falar dos primeiros (não era a minha intenção, mas agora já está feito), temos mais assuntos interessantes a tratar. Primeiro, a morte de Roslin. Que desfecho emocionante, não? BSG é das únicas séries que já me arrancaram lágrimas e desta vez não foi diferente. Era óbvio que ela ia morrer, mas nunca estamos preparados para uma cena com tanto realismo como foi essa. Depois de chegarem à ‘nossa’ Terra, 150 mil anos atrás, Bill Adama gasta os últimos minutos dela a ver a vida que tanto ela desejou e lutou.
Ver os flamingos e a felicidade de Roslin ao morrer realizado e com o amor da sua vida é mesmo de criar um ‘nó na garganta’. Desde a sua mão a cair, revelando a sua morte, até às últimas frases de Adama na série, tudo foi perfeito. Perfeito! A interpretação de Edward James Olmos, Mary McDonnell e o resto do elenco são pontos a tratar no último parágrafo, mas eles merecem serem mencionados vezes sem conta. Cada olhar, gesto, abraço, toque na mão, sorriso, lágrimas são conseguidas de uma forma tão simples e sincera que mais do que a própria história, isso vai deixar saudades.
A despedido do pai e filho foi outro ponto que me deixou angustiado (a nível emocional). Lee sabia que era a última vez que veria o pai, mas mesmo assim não se deixou dominar pelo egoísmo e conseguiu compreender o pai. A simplicidade do guião (roteiro no Brasil) faz destas cenas algo de magnífico. Isso é demonstrado também na despedida dele (Bill) e Starbuck, pois ela era como uma filha para ele, mesmo não sabendo da sua verdadeira natureza. Enfim, mais uma cena que, orgulhosamente, chorei.
O final. O polémico final. Aquele em que se adora, ou se odeia. Aquele é que é branco ou preto. Podem me chamar benevolente, compreensivo, o que quiserem, mas ele foi (também) perfeito. Eu sei que estou a ser repetitivo nos adjectivos, mas não posso fazer nada, pois ela é a palavra certa para descrevê-lo. Épico também se aplica. Quero que Lost, em 2010, tenha um final que me agrade tanto como este de BSG agradou. Passaram-se 150.000 anos desde que a Galactica chegou à nossa Terra e vemos um senhor a ler a National Geographic (o Ronald D. Moore). Eu compro a National Geographic e o mais interessante é que na edição de Novembro 2006 a capa era a seguinte ‘A menina mais antiga do mundo‘.
Eu sei que Moore não quis dizer que era a Hera, até porque essa menina que foi encontrada viveu há 3,3 milhões de anos e era hominídeo, enquanto que foi há 150.000 anos que a Hera morreu. Além disso, nessa altura já havia os Homo Sapiens (aqueles que eles encontraram) e a Hera já tinha o corpo de humana (apesar de ser meia cylon). Muitos disseram ‘para que serviu então a Hera?’. Querem mais importância do que ela ser a ‘Eva’ da humanidade contemporânea? Por ser a mãe de todos nós? Querem mais que isso, querem? Ok, eu compreendo, mas não concordo. Cada um tem a sua opinião e eu respeito.
A era dos robots vai dominar a Terra e tudo o que aconteceu antes vai acontecer outra vez, ou talvez não, como diz a Number Six. A série sempre criticou, através de várias personagens e storylines, a sociedade em que inserimos e nem mesmo na última cena, o nosso mundo escapou. A grande questão que se colocou é se a tecnologia (anteriormente deitada fora por Lee, através de Anders) é mesmo benéfica para a humanidade. Vimos em BSG que foi a tecnologia que os levou até à ruína, que a ambição era tanta que acabaram por perder milhões de pessoas.
Se for para escolher em um Locke de fé e um Jack da ciência, eu acho que sou mais Jack que Locke, mas a verdade é que a série fez-me pensar em várias coisas que antes não tinha posto em causa. Estaremos preparados para o futuro? Estaremos a desenvolver, metaforicamente falando, os nossos próprios Cylons? Resumindo, uma grande cena final, depois da conversa reveladora sobre Gaius ser Deus entre ele e a Six, com uma música bem conhecida por todos nós e ainda a tal crítica que eu falei. Não podia ter sido melhor, nem mesmo aquela cena do Adama a falar sobre a cabana, depois da Roslin estar enterrada.
150.000 anos e umas horas atrás
Comecei pelo fim, mas o início também foi interessante. Prometo que vou ser mais breve, até porque final é final e os últimos minutos dão sempre mais vontade de comentar. Os flashbacks foram bons na medida que deu para fazer uma comparação da vida pré-Galactica e pós-Galactica. Nada mais. Após a primeira parte de Daybreak, que foi exibida na semana passada, ficámos a conhecer o plano de Adama e companhia para tentar salvar Hera de Cavil e os restantes Cylons. Mas quem salvou Hera primeiramente foi a própria Boomer e eu já estava desconfiado que isso ia acontecer, até comentei isso no review passado. Após vários obstáculos, e como a ajuda da comunicação entre Anders e a híbrida, Galactica consegue infiltrar-se em território Cylon e começar a sua missão de resgate.
Um dos pontos mais criticados nessa segunda metade da quarta temporada foi a falta de batalhas espaciais. Eu, na minha opinião, também achei isso, mas a verdade é que tudo foi compensado neste último episódio. Os efeitos especiais estavam, numa simples palavra, soberbos. A produção sempre fez um excelente trabalho, mas desta vez não podia estar melhor. Eu vi o episódio ao vivo dos Estados Unidos e depois na televisão, onde a qualidade fica mesmo boa, e ver aquilo tudo foi um verdadeiro espectáculo visual. Não querem repetir este episódio no cinema? Eu pagava para ir ver!
Após entrarem lá, os sonhos de Athena, Caprica Six, Baltar e Roslin são explicados. A casa da ópera era, sem mais nem menos, aquele local em que estavam no momento. Após compreendermos tal coisa, não demorou muito a perceber o significado daquelas luzes que apontavam os Final Five e a sequência de acontecimentos, com uma mixagem bombástica de cenas, resultou num dos momentos mais altos da série. Mais um mistério que foi resolvido, também criticado por muitos e satisfatório para mim.
Quando tudo parecia estar a correr bem, após a Six e o Baltar levarem a Hera até Adama, aparece o Cavil e a única forma de pará-lo é com a promessa do Tigh da ressurreição. Contudo, tal acaba por não acontecer quando Tyrol descobre que a Tory foi quem matou a sua mulher, Callie. Ele acaba também por matar a Tory e, assim, começa a guerra entre os Cylons ‘maus’ e a Galactica. Cavil acaba por suicidar (proposta feita pelo próprio actor ao Ronald D. Moore) e os restantes morrem. E assim terminam eles (o centuriões saíram-se melhor, pois conseguiram a liberdade que queriam). Starbuck é a responsável pelo salto, o último que a Galactica vai suportar. Acho interessante o facto do Moore não dar as respostas de ‘mão beijada’, mas sim fornecendo pistas para que as descubramos por nós mesmos.
Um exemplo disso é o facto do Daniel ser o pai da Starbuck, pois nunca foi afirmado tal na série, mas toda a gente sabe que isso é a mais pura das verdades. Sendo uma meia Cylon, assim como a Hera, está explicado aquele desenho que ela fez contendo as notas músicas que a Kara tocou no piano enquanto criança, as mesmas notas músicas que os levaram para a Terra. O nome Terra é subjectivo. Existem duas ‘Terras’, uma que é a Terra como 13.ª colónia e outra a Terra como salvação, a nossa Terra.
Eles encontraram as duas, mas só uma é deu condições favoráveis para viverem. Infelizmente, nem todos chegaram lá e poucos puderam ter o resto das suas vidas num sítio aberto, calmo e feliz, explorando tudo o que estava ao alcance deles. Um sonho foi destruído no episódio 4.10 e outro foi concretizado no final. Mas este não foi um final feliz, mas sim um final humano. Battlestar Galactica teve o melhor final que me podia apresentar. Épico!
Foram quatro temporadas que eu me orgulho de ter acompanhado. Foram emoções, grande batalhas e mistérios que me fizeram apaixonar por esta magnífica série. Desde 2003, quando a minissérie foi apresentada, que BSG não é uma série muito reconhecida pelos fãs de séries, o que é uma pena. Agora resta-nos um filme, The Plan, realizado por Edward James Olmos, e uma saudade imensa. Fico feliz pelo final ter sido pensado previamente e de tê-lo já do que ter um menos satisfatório mais à frente. Uma série inesquecível e altamente recomendável. Obrigado a todos os que fizeram disso uma grande série, desde actores (o melhor elenco alguma vez visto), escritores, equipa técnica, todos! E que o Emmy vos abençoe este ano.
So Say We All
A opinião da Marcia:
Eu amei o final de Battlestar Galactica! Confesso que no começo do episódio estava com um pé atrás, e quando vi Bill aceitando fazer um acordo com Cavil pensei que tudo iria água abaixo. Felizmente me enganei e percebi que todos aqueles episódios fillers que tivemos em boa parte dessa segunda metade da temporada eram necessários. Se tudo o que aconteceu nesse episódio duplo tivesse sido diluído nos episódios anteriores apenas para fazer a história andar, esse final não teria sido tão impactante, tão perfeito.
Chorei muito com a despedida dos personagens, e achei perfeito Starbuck, Six e Baltar serem, sim, manifestações divinas – muita gente não gostou, porém a fé e a religião sempre foram pontos fortes da série, por isso achei a explicação para o que eles eram muito plausível e, sinceramente, perfeita. Não tenho muito mais a dizer, literalmente fico sem palavras para descrever tudo o que eu achei desse episódio final, mas já adianto que quando eu tiver um blu-ray player, Battlestar Galactica será a primeira série que vou comprar para ver!
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